Benfica passa na eliminatória mais renhida
Apesar de também Barcelona e Noia partirem para a segunda mão com um golo de diferença, era o embate luso entre Benfica e Oliveirense que encerrava em si maior curiosidade nos quartos-de-final da Liga Europeia. E incerteza, sendo dado o apuramento de Barcelona, Porto e Sporting para a Final Four como praticamente certo.
Com vantagem de um golo em virtude da vitória por 2-3 em Oliveira de Azeméis, o Benfica mostrou-se apologista de que a melhor defesa é o ataque. A pressionar muito alto, os encarnados rematavam sempre que tinham – ou mesmo quando não tinham – uma “nesga” que fosse, com Adroher a surpreender com muitos remates de meia distância.
Quiçá a antever esta entrada do Benfica no jogo – e Alejandro Dominguez não esconde o modelo ofensivo que advoga – a Oliveirense foi coesa e fechou bem os caminhos para a baliza de um Xevi Puigbi muito concentrado.
Aos nove minutos, para manter o ritmo da correria, Alejandro Dominguez lançava os argentinos Ordoñez e Nicolía. No entanto, tão depressa como entrou, Ordoñez saiu, vendo azul na sua primeira intervenção. Marc Torra foi para a marca de livre directo para o frente-a-frente com Pedro Henriques, num duelo entre obreiros da conquista europeia do Reus em 2017. Ganhou o guarda-redes, inultrapassável nas bolas paradas nesta eliminatória.
O “powerplay” Oliveirense mudou necessariamente o (des)equilíbrio do jogo, que pendia para os encarnados. Não apenas quando a equipa de Renato Garrido estava em superioridade, com o Benfica a gerir bem, com a bola quase sempre em Nicolía, mas também depois, com as oportunidades a serem mais divididas, com ambos os guarda-redes a serem postos à prova em lances sucessivos, num excelente exemplo para aqueles que defendem que a limitação de tempo de ataque devia ser bem menos do que os actuais 45 segundos…
Sem que os ataques dessem frutos, o jogo chegou mesmo a estar anárquico, numa recta final de primeira parte a deixar todos os presentes (numa casa bem composta, mas longe da enchente que o duelo mereceria) “cansados” só de ver, e ansiosos pela etapa complementar.
No regresso dos balneários, o marcador mexeu.
No primeiro lance de ataque, Diogo Rafael insistiu e, de trás da baliza, assistiu Valter Neves para o 1-0 que reforçava a vantagem encarnada. O capitão do Benfica fazia esquecer os seus 35 anos com um jogo de uma demonstração física impressionante e o golo era um justo prémio para a sua exibição.
O golo das águias de Lisboa obrigou a Oliveirense a pegar no jogo, a pressionar mais e a ser mais incisiva. Um pouco à semelhança do jogo na Luz para o Campeonato, em que chegou a vulgarizar os encarnados na segunda parte da partida. No entanto, o Benfica desta fase da temporada está bem diferente fisicamente daquele que, nos primeiros jogos com Alejandro Dominguez durava pouco mais de 25 minutos.
E, na missão defensiva, conta com uma inusitada disponibilidade de Carlos Nicolía, preciosa na hora de antecipar a arte de Bargalló e Torra. Ainda que depois, com essas preocupações defensivas, o Benfica se ressinta da “ausência” do argentino na construção ofensiva.
Renato Garrido tentaria inúmeras possibilidades ofensivas, exceptuando Pablo Cancela – ainda que da bancada não faltassem apelos de “mete o Pablo” -, que será “carta fora do baralho” para a próxima temporada, como Miguel Rocha no Benfica. E seria com dois homens de área que o golo chegaria.
Aos 12 minutos, Diogo Rafael interceptou a assistência de Barreiros para Emanuel Garcia, mas a bola ficou à mercê de Jorge Silva, que fez o empate. “Até ao fim!”, pediu o atacante que estará em Montreux à sua claque. No entanto, um minuto volvido a tarefa oliveirense voltava a complicar-se.
Com o empate no jogo e a um golo do empate na eliminatória, Garrido abdicou de Emanuel e Jorge Silva em prol de um bloco mais sólido, mas ainda as peças se estavam a arrumar – um minuto após a igualdade - quando Ordoñez descobriu Diogo Rafael solto, sobre a esquerda, para este fazer o 2-1, num golo efusivamente celebrado.
A Oliveirense era obrigada a “carregar” novamente, ainda que desde os seis minutos e meio contasse com nove faltas. E, apesar de pressionar, os pupilos de Renato Garrido lograriam evitar a décima, num jogo em que houve poucas faltas. O Benfica chegaria ao intervalo com apenas duas e terminou o jogo com oito. Não seria aí que rebentaria a polémica.
A Oliveirense porfiou e, a pouco mais de três minutos e meio do final, chegou mesmo ao golo, numa iniciativa de Marc Torra. O catalão colocou a meia altura ao segundo poste, onde, na marcação a Jorge Silva estava Nicolía. A bola bateu na luva do argentino do Benfica e “pingou” para a finalização do português da Oliveirense. Os encarnados reclamaram em bloco de uma miríade de infracções, e alguma “colou”, com Filippo Fronte a assinalar uma falta que, de facto, não existiu.
A Oliveirense voltava, depois do jogo para o Campeonato, a ter razões de queixa num lance que se resolveria com o propalado VAR, e talvez a Liga Europeia, na sua importância, fosse o palco ideal para o testar… mas, para a equipa de Oliveira de Azeméis, já vai pecar por tardio.
Sem baixar os braços, mesmo precisando de dois golos para igualar a eliminatória, a Oliveirense ficaria privada de Jorge Silva – autor de dois dos três golos da equipa nesta eliminatória - a dois minutos e meio do apito final, num azul mostrado na luta por espaço na área encarnada com Miguel Vieira (que também veria o azul).
Num derradeiro ímpeto, Renato Garrido arriscou com a saída de Puigbi, atacando com cinco jogadores de pista. Mas o plano, que culminou com um remate de Ricardo Barreiros, saiu “furado”. Nicolía recuperou a bola e Ordoñez levou-a para o ataque, servindo Adroher para este rematar para a baliza deserta e fixar o 3-1 a seis segundos do apito final.
Inconformado, Jorge Silva veria o cartão vermelho por protestos. Já em pista, a Oliveirense, conformada com a impossibilidade de recuperar de três golos, abdicou de um último ataque.
No final da partida, os técnicos eram o reflexo do desfecho da eliminatória. Alejandro Dominguez, que passou o jogo – e, em particular, a segunda parte – muito activo, acompanhando do “lado de lá” da tabela as transições da sua equipa e muitas vezes os movimentos individuais dos jogadores, elogiou a sua equipa. Renato Garrido não escondeu – nem calou – a sua indignação para com a arbitragem desta e outras partidas.
De regresso à Final Four depois da ausência em 2018 – afastado nos quartos-de-final pelo Porto -, o Benfica vai defrontar o Sporting num duelo inédito entre os eternos rivais. A sede da Final Four - que terá lugar a 11 e 12 de Maio - ainda não é conhecida.
Terça-feira, 9 de Abril de 2019, 7h48