A conquista mais desejada, mais sofrida e mais saborosa
A 14 de Julho, Portugal pôs fim ao maior período da sua história no Hóquei em Patins sem ganhar um Mundial, erguendo o título pela 16ª vez 16 anos – sete edições sem vencer – após a 15ª conquista, em 2003, em Oliveira de Azeméis.
O triunfo em Barcelona foi apenas o segundo de Portugal em território espanhol, apesar de ali se ter já disputado em nove ocasiões antes destes World Roller Games. Inclusivamente, o outro triunfo português acontecera numa cidade de Madrid – no já distante ano de 1960 – que estava e está longe de ser um bastião da modalidade.
Este ano na Catalunha, em Vilanova i la Geltrù e Barcelona, Portugal fez do pragmatismo a sua bandeira. Permitindo-nos roubar da voz de Bernardo Santos, jogador do Parede e um autêntico sexto jogador a partir da bancada durante a fase final do Mundial, “Pouco importa, pouco importa. Se jogamos bem ou mal. Queremos é levar a taça. Para o nosso Portugal!” foi como um hino, tal como em 2016 no futebol, do foco português em ganhar ao invés de terminar com a conquista moral de um Hóquei mais vistoso.
Um título conseguido, ignorando os desempates, com dois triunfos e quatro empates. Portugal venceu, na fase de grupos, a Colômbia (8-2) e o Chile (9-4), mas no tempo regulamentar não iria além de empates frente a Argentina (1-1) e, já na fase final, Itália (4-4), Espanha (2-2) e, novamente, mas agora na final, Argentina (0-0).
Mas os jogos não terminam aos 50 minutos. Nem aos 60. E, com a necessária estrelinha, Portugal ergueria o seu sexto título fora de portas, juntando a conquista em Barcelona às de Montreux (1948), Milão (1950), Madrid (1960), Santiago do Chile (1962) e Bassano (1993).
Após a derradeira defesa de Ângelo Girão, figura maior do triunfo luso e deste Campeonato do Mundo, o HóqueiPT ouviu quatro figuras do Hóquei em Patins nacional, quatro entre muitos portugueses que se deslocaram à Cidade Condal para acompanhar o percurso dos novos heróis de Portugal até ao lugar mais desejado no pódio.
Nuno Lopes, hoje treinador do Tomar, foi o treinador que “recebeu” Girão no Sporting e já vira a estrelinha do guarda-redes brilhar intensamente em Igualada, numa final da Taça CERS também decidida em grandes penalidades. Na hora da vitória destacou o prémio para um campeonato português que ganhou com a incorporação de jogadores e treinadores estrangeiros, mas não deixou de levantar questões sobre a organização, em particular sobre a não utilização do Palau Blaugrana para todo o evento.
Nuno Domingues, treinador do Marinhense, afirmou que este foi um título da “equipa que soube sofrer mais”, apontando mérito a Ângelo Girão como bastião defensivo e ao trabalho do técnico Renato Garrido.
Num Mundial realizado num dos centros nevrálgicos da modalidade, Nuno Domingues questionou o modelo e como é necessário repensar para se atrair mais gente aos pavilhões, mas sem deixar de sublinhar a importância de Portugal vencer naquele palco em particular.
Tiago Sousa, que na próxima temporada assumirá novo desafio no Termas Óquei Clube, esteve presente por Angola em três campeonatos do Mundo e defende uma inovação no modelo, promovendo-se por exemplo um play-off, a eliminar, sem os “ingratos” jogos entre derrotados, e que pudesse ser disputado ao longo de mais tempo.
Abstraindo-se das outras modalidades na envolvência dos World Roller Games, Tiago deu enfâse ao “percurso difícil” da Selecção Nacional e ao “espirito de sacrifício da equipa”, sempre a recuperar resultados e com condições adversas, como o intenso calor que se fez sentir na região.
Pedro Caeiro Gonçalves, treinador do Parede e comunicador nato, voltou ao microfone para sublinhar que, nestas competições, contra tudo o que possa ser dito, “o que interessa é ganhar”. “E Portugal venceu”, frisou, destacando o momento de Ângelo Girão e a confiança de Renato Garrido no processo que idealizara e que acabaria por dar frutos.
Sobre a competição e a modalidade, Pedro recordou que “vitórias não escondem defeitos estruturais”, vincando a necessidade de planos a longo prazo para um Campeonato do Mundo mais competitivo em vez do repetido “choro” sempre que há uma goleada nestes eventos.
Para a posteridade fica o título. O 16º em 44 edições, na modalidade que mais alegrias deu a Portugal. O desafio mundial regressa em 2021, em San Juan, possivelmente o mais emblemático palco de Hóquei em Patins do Mundo.
Antes, há Campeonato da Europa, em Julho de 2020, em La Vendée, França. Portugal procurará o seu 22º título continental, com novo obstáculo histórico para ultrapassar, dado que não vence um Europeu fora de portas há 24 anos, desde 1996, em Salsomaggiore, Itália.
Quarta-feira, 14 de Agosto de 2019, 9h28