A verdade desportiva ficou a sete jornadas de distância

André Gil

A verdade desportiva ficou a sete jornadas de distância

Como deve terminar o Campeonato Nacional da I Divisão e como se deve iniciar a época 2020/21?

Antes de dar a minha opinião sobre este assunto, que tanto tem dado que falar, não posso deixar de manifestar a minha indignação sobre tudo o que tenho lido e visto nas redes sociais após ter sido anunciada a decisão conjunta da Federação de Patinagem de Portugal (FPP) com as restantes modalidades de pavilhão (Andebol, Basquetebol e Voleibol).

A minha indignação está relacionada com o tratamento e com os comentários depreciativos que têm feito sobre a Associação de Educação Física e Desportiva.

Para os mais desatentos, e/ou com memória curta, relembro que a equipa da Física subiu com todo o mérito na época passada à I Divisão e fez uma trajectória meritória na Taça de Portugal, tendo, por exemplo, sido apenas eliminada pela margem mínima pelo Futebol Clube do Porto, por 4-3, que depois acabou por se sagrar campeão nacional.

É verdade que esta época os resultados não têm sido os melhores e que realmente alcançámos poucos pontos. No entanto, não me esqueço, nem tenho a memória curta, sobre os vários comentários que temos tido, de adversários e até equipas de arbitragem sobre o nosso desempenho e qualidade demonstrada em vários jogos durante esta época, o que demonstra que a Física tem qualidade e que também merece estar na I Divisão.

De todos os comentários que ouvi, o que mais me surpreendeu pela negativa foi feito por um colega de profissão, treinador, que teve a coragem de dizer que para ele podia descer já a Física e que assim dava mais um lugar para subir uma equipa da II Divisão.

É isto que é a verdade desportiva? Isto é imparcialidade? Isto é justiça?

Será que custa perceber que todas as análises que possam ser feitas deverão ser o mais imparciais possíveis e que devem assentar em pressupostos claros e coerentes?

Será que é difícil entender que a verdade desportiva tem que estar obrigatoriamente presente e que há um facto que ninguém pode controlar (o vírus) que não permitiu que os campeonatos acabassem e, logo, nada pode ser dado como adquirido?

Todas as pessoas que têm feito este tipo de comentários (que na generalidade são adeptos dos clubes da II Divisão que pretendem subir) já se deram ao trabalho de irem ver, por exemplo, a classificação da época passada da I Divisão a sete jornadas do fim? Viram o exemplo do Paço de Arcos, onde estava e onde acabou? E o exemplo do meu adversário directo na época passada (Parede) que perdeu seis ou sete jogos consecutivos e foi também esse um dos factores que nos levou a subir de divisão? Se isso aconteceu na época passada, quem é que lhes garante que não podia acontecer novamente?

Por outro lado, se tivermos em consideração as outras modalidades de pavilhão que, de acordo com o comunicado conjunto, decidiram que não existirão descidas, já alguém teve alguma preocupação de verificar o número de pontos e a diferença pontual do último classificado para as equipas que estão acima da linha de água? Era só a Física, no Hóquei em Patins, que estava nessa posição?

Para finalizar esta parte das considerações, não posso deixar de acrescentar ainda um ponto que também foi mencionado como um argumento válido para tomar decisões, que é a questão do investimento de determinados clubes. Desde quando é que o factor financeiro dá direito a subir directamente antes de os campeonatos terminarem?

Perante o exposto, a minha opinião é clara e não pode haver dúvidas de que, se o campeonato não terminou, pois faltavam ainda disputar sete jogos onde muita coisa podia ainda acontecer, não se pode decretar campeões, subidas ou descidas.

Neste sentido, considero que qualquer decisão que se venha a tomar a partir do momento em que se chegou à conclusão de que não haviam condições para terminar o campeonato, nunca será consensual e invariavelmente irá provocar um sentimento de injustiça.

Qualquer decisão a tomar terá de ser o mais coerente possível e deve zelar acima de tudo pela verdade desportiva, minimizando assim - na minha opinião - as injustiças que possam vir a acontecer.

A minha opinião assenta assim na decisão que foi comunicada (em conjunto) com Andebol, Basquetebol e Voleibol, que refere que não haverão campeões. E, assim, parece-me mais do que lógico que não existam também descidas, pelo que não entendo a excepção que foi colocada pela FPP na alínea correspondente. Se queremos ser claros e coerentes não podem haver excepções, salvo existam situações especiais. Algo que não acontece.

Para além do exposto, não considero a possível realização de "liguilhas" para definição das subidas e descidas uma decisão boa para nenhuma das partes. E dificilmente será exequível, como poderemos comprovar pelos seguintes pontos:

- Ao não se fechar este campeonato de imediato, que já está irremediavelmente estragado, será colocado em causa o próximo, dado que os clubes não se vão conseguir organizar sem sequer saberem em que divisão vão competir;

- Não vão conseguir arranjar patrocinadores porque não têm argumentos para os mesmos, pois não sabem se vão competir na I ou II Divisão;

- Dificuldade de construir planteis pelo mesmo motivo do ponto anterior;

- Quando é que se teria de iniciar a pré-época para se preparar uma "liguilha" decisiva depois de uma paragem deste tipo? Será que os clubes, para além das indefinições, conseguem pagar a jogadores e treinadores no mês de Agosto e depois conseguir ter verba para competir na referida "liguilha"?

- Quais são os clubes a ir à "liguilha"? Será justo ir a equipa do Paço de Arcos e não ir a Juventude de Viana, por exemplo, da I Divisão e ir o Parede e não o Candelária na Zona Sul da II Divisão?

- Será justo haver ainda um jogo ou dois, antes da "liguilha", para as equipas que ficaram em segundo nas duas zonas da II Divisão?

- A verdade desportiva está contemplada se forem utilizados jogadores contratados para a próxima época desportiva visto que essas decisões ainda dizem respeito ao campeonato da presente época?

Posto isto, considero que em termos de coerência, e seguindo os pressupostos definidos pelas restantes modalidades de pavilhão, deviam ser tomadas a seguintes decisões:

- Anular efectivamente o Campeonato Nacional da I Divisão na época 2019/20, não existindo lugar a descidas de divisão como não há lugar a atribuição do título;

- Para a época de 2020/21, a FPP deverá analisar a possibilidade do alargamento do número de equipas a disputar a I Divisão. Mesmo que tal exija mais despesas para os actuais 14 clubes, acabaria por minimizar, de certa forma, o sentimento de injustiça dos clubes da II Divisão.

A decisão das subidas seria outra situação a analisar, mas, na minha opinião, poderia sair de uma das seguintes hipóteses:

- Subida directa do primeiro classificado de cada zona da II Divisão;

- Avaliar com os clubes que estão em posição de possível subida quem realmente está interessado em subir, e arriscar, por exemplo, fazer uma "liguilha" apenas entre clubes da II Divisão, definindo-se depois em que moldes isso poderia acontecer.

AMGRoller Compozito

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