Valter Neves e a busca da despedida perfeita
Ainda com títulos em jogo esta época, a decisão de Valter Neves de pendurar os patins no final é praticamente irreversível. Confirmando-se, o capitão que levantou todos os troféus manter-se-á no Benfica, mas como dirigente. #Mercado #PrimeiraDivisão
Há alguns anos que se fala do final de carreira de Valter Neves, mas, com provas dadas em pista, o capitão do Benfica vai justificando a continuidade. Mas, esta temporada, está mais próxima do que nunca de ser a última.
Tal tem sido tema nos bastidores da Luz e foi assumido pelo próprio num directo no Instagram, sem esconder a vontade de continuar ligado ao desporto e ao Benfica em particular. Ao que foi possível apurar, a quase inevitabilidade do final de carreira não esgotará a ligação de Valter Neves às águias, passando a dirigente desportivo da secção.
Valter Neves completa 38 anos em Agosto e começou a jogar no Alverca. Destacando-se desde cedo, rumou em juvenil ao Paço de Arcos, onde integraria uma geração fantástica. Com Carlos Silva, Pedro Afonso, Ricardo Barreiros e Rui Ribeiro foi aposta em 2004 de um Benfica a sair de uma crise financeira e a tentar acabar com outra crise, desportiva.
Os primeiros anos de águia ao peito foram ingratos, com o hegemónico Porto a "teimar" em ganhar praticamente tudo.
As entradas e saídas foram várias. Em 2008, com o argentino Mariano Velazquez a partir para o Hóquei em Patins italiano, Valter assumiu a braçadeira. Dois anos depois conquistava a Taça de Portugal, no "seu" pavilhão do Paço de Arcos, no primeiro de 17 títulos erguidos nos encarnados. Não haveria troféu que Valter Neves não levantasse.
Nesse mesmo ano de 2010, o Benfica conquistava a Supertaça António Livramento, batendo "enfim", o Porto numa decisão. No ano seguinte, chegaram os títulos europeus, com a conquista da Taça CERS (em Vilanova) e da Continental (em Viana, com o Liceo a perder por "falta de comparência").
Em 2012, o Benfica quebraria a série triunfal dos dragões (o histórico "deca") ao vencer o Campeonato Nacional 14 anos depois. Ao título de campeão juntar-se-ia a segunda Supertaça com Valter Neves como capitão.
Já com um lugar garantido na História das águias, em 2013 reclamou definitivamente um lugar na galeria dos heróis de encarnado e branco. Não somou qualquer título nacional, mas foi o ano da primeira Liga Europeia do clube, frente ao Porto e em pleno Dragão Caixa, juntando-se ainda a conquista da primeira Taça Intercontinental, frente ao Recife, e de mais uma Continental, a duas mãos com o Vendrell.
Em 2014, levantou "apenas" a Taça de Portugal, mas em 2015 somaria uma dobradinha que não acontecia desde 1995.
No ano seguinte, Valter Neves capitaneou aquela que é provavelmente a equipa mais forte da história centenária do Hóquei em Patins encarnado. Garantiria, no mesmo fim-de-semana de Maio, a conquista do Campeonato e da Liga Europeia, numa Final Four realizada na Luz. Mais tarde, somaria ainda mais uma Taça Continental, num duelo português com o Óquei de Barcelos.
O Benfica desinvestiu e acusou de sobremaneira a decisão no final da temporada seguinte, num empate em Alverca, frente ao Sporting, que custaria o título e um lance polémico perto do final levaria os encarnados a não comparecerem na Final Four da Taça. Nesse ano ainda conquistaria a "oficiosa" Elite Cup e a Taça Intercontinental, na primeira edição em formato de Final Four, mas a equipa iniciaria uma travessia do deserto no que a troféus diz respeito.
Já esta época, três anos volvidos sobre a conquista da Intercontinental em Reus, o Benfica arrecadaria em Dezembro último a primeira edição da federativa Taça 1947 e Valter ataca agora a conquista do Campeonato Nacional pela quarta vez e da Liga Europeia pela terceira.
Tal como Sporting e Porto (numa Final Four portuguesa a que se junta a Oliveirense), o Benfica pode tornar-se o primeiro clube português a conquistar a mais importante prova de clubes pela terceira vez. Mas apenas Valter Neves poderá ser o primeiro capitão português a erguer o troféu em três ocasiões.
Na Luz, nos 17 anos que completa no fim desta temporada, conheceu seis treinadores - Paulo Garrido, Nelson Lourenço (interinamente, em três jogos), Carlos Dantas, Luís Sénica, Pedro Nunes e Alejandro Dominguez - vivendo as mudanças a meio da temporada de Garrido por Dantas (com Lourenço pelo meio) em Janeiro/Fevereiro de 2006 e, já como capitão, de Nunes por Dominguez em Dezembro de 2018.
No Benfica, Valter tem tantos anos de "casa" como Diogo Rafael. Mas, quando Diogo chegou do Turquel em 2004 integrou - com os seus 14 anos - a equipa de Juvenis (Sub-17) e, apesar do talento que lhe era reconhecido, ainda "demoraria" a chegar aos seniores. Dois anos a menos de águia ao peito conta o sub-capitão Pedro Henriques. O guardião de 30 anos chegou, tal como Diogo, em 2004, mas com apenas 13 anos e para a equipa de Iniciados (Sub-15). Esteve um ano cedido ao Parede, em Juniores e outro ao Reus, já sénior.
Na mesa está agora a questão do sucessor, sendo badalados vários nomes, mas sem que nenhum tenha sido já concretizado. Na sua decisão de pendurar os patins, a vontade do capitão de tantas conquistas será mesmo irreversível mesmo que não seja assegurado um nome à altura e que não haja público para sublinhar com aplausos a sua retirada?
Currículo de Valter Neves no Benfica
• 3x Taça de Portugal (2010, 2014 e 2015)
• 2x Supertaça António Livramento (2010 e 2012)
• 1x Taça CERS (2011)
• 3x Taça Continental (2011, 2013 e 2016)
• 3x Campeonato Nacional (2012, 2015 e 2016)
• 2x Liga Europeia (2013 e 2016)
• 2x Taça Intercontinental (2013 e 2017)
• 1x Elite Cup (2017)
• 1x Taça 1947 (2020)
Quarta-feira, 21 de Abril de 2021, 9h59