Primeiro triunfo helvético na Liga Europeia é do Diessbach
O Diessbach escreveu uma página ímpar no Hóquei em Patins da Suíça e da Liga Europeia, com a primeira vitória helvética numa fase de grupos. O feito tem cunho português, do treinador e guarda-redes Carlos Silva e do atacante Rui Ribeiro.
Foto de capa: RHC DiessbachÉ uma Liga Europeia atípica e já se sabe que o vencedor será inédito. E, no capítulo de eventos ímpares, os suíços do Diessbach protagonizaram um no passado sábado, com a primeira vitória de uma equipa suíça na fase de grupos da mais importante prova europeia de clubes.
Na 3ª jornada do grupo B da fase de grupos, o Diessbach visitou - e venceu - o Coutras, 3º classificado na francesa N1 Elite. O internacional suíço Lorenzo Rui inaugurou o marcador aos quatro minutos e ampliou a oito minutos do intervalo. Minuto e meio volvido, o capitão Pascal Kissling assinou de livre directo o 0-3 com que se chegaria ao intervalo. A estratégia gizada por Carlos Silva, com o próprio Carlos Silva a manter a sua baliza inviolada, ia funcionando na perfeição.
Vitória do Diessbach por 4-6 foi a primeira de uma equipa suíça na fase de grupos da Liga Europeia, instituída em 1996.
O Coutras, recheado de bons valores, procurou reagir e reduziu aos sete minutos e meio da etapa complementar, por Benjamin Lafargue, mas Lorenzo Rui não vacilaria de grande penalidade para repôr a vantagem de três golos. A "revolução francesa" chegaria pelo stick do catalão Marc Povedano, com o natural de Igualada a igualar depois de um hat-trick, faltavam seis minutos e meio para o apito final.
Poderia ser a "esperada" reviravolta dos anfitriões, mas era dia de escrever História no Hóquei patinado suíço. Um azul a Lafargue, permitiu a Lorenzo Rui fazer o 4-5, selando o atacante de 24 anos um poker. E, no desespero gaulês, o experiente Rui Ribeiro carimbou a mais dourada página do Diessbach - e da Suíça - na Liga Europeia.
Entre os protagonistas deste feito, estão os dois internacionais portugueses, Rui Ribeiro e Carlos Silva. Cresceram juntos no Paço de Arcos e, em 2004, rumaram juntos ao Benfica. Volvidos 10 anos de venturas e desventuras, partiram novamente juntos de Paço de Arcos, então para uma aventura helvética. E para escrever História.
Pioneiros Uttigen e Thunerstern
A Liga Europeia sucedeu à Taça dos Campeões Europeus em 1996, mas um modelo competitivo com uma fase de grupos restritiva - de apenas dois grupos de quatro equipas - era pouco dada a "forasteiros" aos históricos de Espanha, Portugal e Itália.
Nas 11 temporadas em que foi disputada neste modelo, uma eliminatória - e, eventualmente, uma pré-eliminatória em função do número de inscritos - deixava as equipas das ditas "federações mais fracas" arredadas dos seis jogos da fase de grupos e a Suíça apenas chegou a esse patamar com Uttigen (duas vezes) e Thunerstern (três). Por exemplo, o Genève caiu na eliminatória prévia, consecutivamente, entre 1996 e 2003...
Em 1999, o sorteio ditou um embate helvético entre Uttigen e Genève, e o Uttigen acabou por ser mais feliz, marcando a estreia da Suíça na fase de grupos. Mas com seis derrotas, com Barcelona, Porto e Vic.
Seguiu-se a presença do Thunerstern em 2000, repetida em 2005, e outras aparições do Uttigen em 2002 e 2004, sempre pautadas por derrotas. Nesta última, em 2004 (que seria mesmo a última presença do Uttigen na fase de grupos da prova), num grupo com Barcelona, Oliveirense e Igualada, o Uttigen, em seis jogos, marcou oito golos e sofreu... 72.
Mais presenças (mas apenas dois empates) com quatro grupos
Em 2007, passou a haver quatro grupos de quatro equipas, democratizando-se o acesso às equipas "periféricas".
Nas 15 edições disputadas desde esse ano, a Suíça só falhou a presença em 2008/09, num ano em que houve nada menos do que oito equipas espanholas em prova, e na versão improvisada e reduzida de 2020/21.
O Wimmis esteve presente em 2007/08 e o Weil-Am-Reihn em 2009/10, nas únicas presenças destas equipas na fase de grupos. Depois, o Genève esteve presente em três temporadas consecutivas, mas outro desfecho que não a derrota tardava.
Em 2013/14, o Diessbach estreava-se na prova e, logo na estreia - celebraram-se no passado dia 18 oito anos -, lograria um histórico ponto, com um empate a três frente aos franceses do Quevert. A equipa dos portugueses César Torres e Eduardo Mendes chegou ao empate a nove segundos do fim, com o brasileiro Michel Dantas Zanini a assumir o papel de herói com um hat-trick.
Na temporada seguinte, mas no mesmo ano civil de 2014 (a 1 de Novembro), o Genève lograva também um ponto. Frente ao campeão português, o Valongo, e na casa deste! O empate a cinco de uma equipa que contava com o mítico Pedro Alves como treinador-jogador - e outros portugueses como Luís Coelho, Flávio Silva ou o guarda-redes Sebastian Silva - surpreendeu o mundo do Hóquei em Patins.
Os dois pontos conquistados em edições sucessivas podiam ser um bom auspício, mas a "elevação" helvética não aconteceu. Basel (2015/16), Diessbach (2016/17), Montreux (2017/18 e 2018/19) e Biasca (na cancelada temporada de 2019/20) não voltariam a pontuar, contabilizando por derrotas todos os seus jogos.
Mesmo o Diessbach, esta temporada, seguia pelo mesmo tenebroso caminho, com derrotas na recepção ao Valongo (1-5) e na deslocação a Sarzana (7-4). Até este histórico e marcante 29 de Janeiro de 2022.
Terça-feira, 1 de Fevereiro de 2022, 13h50