«Voltaremos»
Na hora da derrota na final do campeonato do Mundo, o seleccionado português 'falou' praticamente a uma só voz. 'Voltaremos', pôde ler-se nas redes sociais. E, num bloco que se tem consolidado, não se adivinham muitas mudanças num futuro próximo.
Sentindo-se injustiçados pela organização e a arbitragem na derrota que custou o título mundial, os jogadores portugueses multiplicaram-se em promessas de regresso, em busca de vingança sobre a vingança que os argentinos tinham "jurado" após a final do Mundial de 2019.
E, no que têm sido os últimos anos da selecção das quinas, não se adivinha um bloco muito diferente no próximo Campeonato do Mundo, em 2024, e muito menos já em 2023, no Campeonato da Europa.
Geração de pedra e cal
A selecção às ordens de Renato Garrido neste Campeonato do Mundo de San Juan parece, desde logo, retirada de uma caderneta do Mundial de futebol, com a presença dos quatro grandes clubes que apostam no Hóquei em Patins. Estão três jogadores do Porto (Gonçalo Alves, Rafa e Telmo Pinto), três do Sporting (Ângelo Girão, Henrique Magalhães e João Souto), dois do Benfica (Diogo Rafael e Pedro Henriques) e dois do Barcelona (Hélder Nunes e João Rodrigues), representantes de uma geração cuja qualidade não tem permitido "intromissões".
Menos de quatro anos e meio separam o mais velho, Ângelo Girão, do mais novo, Hélder Nunes. Girão e Diogo são de 1989, Pedro Henriques e João Rodrigues de 1990, Rafa e Henrique Magalhães de 1991, João Souto de 1992, Gonçalo Alves e Telmo Pinto de 1993 e Hélder Nunes de 1994.
À esfera da selecção absoluta, Diogo Rafael foi o primeiro a chegar, no Mundial de 2011, realizado precisamente em San Juan. Um ano depois, no Europeu de Paredes, juntavam-se a "Xiquinho" os agora blaugrana João Rodrigues e Hélder Nunes. Aqueles que são capitão e sub-capitão não mais falharam uma grande prova - Diogo falhou o Mundial de 2019 - e os três somam 10 eventos maiores, cinco Mundiais e outros tantos Europeus.
No Mundial de 2013, em Angola, já estiveram seis dos últimos mundialistas. E no Mundial de 2015, há sete anos, estavam nada menos que oito!
Ângelo Girão e Gonçalo Alves já completaram nove "grandes eventos" (Mundiais ou Europeus), Rafa sete, Pedro Henriques e Henrique Magalhães e Telmo Pinto quatro. João Souto foi a novidade em San Juan, estreando-se na selecção em competições maiores já com os 30 anos feitos.
De resto, nesta selecção apenas Hélder Nunes (28) e Gonçalo Alves e Telmo Pinto (29) ainda não têm os 30 anos feitos. Não que ser trintão no Hóquei em Patins seja relevante no rendimento, mas o passar dos anos vai-se reflectindo na média etária da selecção. Em 2015, já com oito dos mundialistas de agora, a média era de 25.30 anos. No arranque do Mundial em San Juan, já ultrapassava os 31 anos.
Ainda que a marcha do tempo seja inexorável, não há perspectivas de grandes mexidas, como os jogadores ou Renato Garrido deixaram claro nas entrelinhas sobre uma selecção apontada como "jovem", mas já com muita experiência. De selecção e também dos grandes palcos.
Por exemplo, conservando o seu grupo, poderão ter chegado a Renato Garrido algumas das críticas sobre a chamada de Henrique Magalhães devido a uma época um pouco abaixo das expectativas, mas o defensor do Sporting terá mesmo sido o melhor dos portugueses em San Juan, juntando golos a um extremo rigor e eficácia defensiva. E, se dificilmente Renato Garrido abdicará deste esteio no seu paradigma de "atacar a defender", também não se vislumbram alterações no resto do grupo.
Até porque o próximo compromisso da selecção absoluta está a menos de oito meses, com o Campeonato da Europa previsto para 17 a 22 de Julho de 2023, em França.
Renovações
As selecções seniores são, por regra, uma evolução natural das selecções jovens e, particularmente, das selecções juniores, agora de Sub-19 e anteriormente de Sub-20.
Neste Mundial de San Juan, mereceu destaque a chamada (e utilização) de Facundo Bridge na selecção agora campeã mundial. O jogador do Valongo esteve no Campeonato do Mundo de Sub-20 em 2017, em Nanjing, com a Argentina a terminar em 4º, atrás da Itália de Checco Compagno e Davide Gavioli, da vice Espanha e do campeão Portugal. Nenhum dos integrantes destas selecções ibéricas chegaram à selecção absoluta.
No entanto, recuando dois anos até ao Mundial de Sub-20 de 2015, são quatro os espanhóis que estiveram presentes em Vilanova i la Geltrù e que agora estiveram em San Juan: Nil Roca, Ignacio Alabart, Sergi Aragones e Ferran Font. Seriam vice-campeões, atrás de um Portugal campeão que ainda não logrou promover nenhum atleta à selecção absoluta.
Nesse Mundial, em terceiro ficou a França dos três irmãos Di Benedetto, de Remi Herman e Antoine Le Berre. Em quarto ficou a Itália, com Compagno, Gavioli e também Giulio Cocco. A Argentina não foi além do 5º lugar, apesar de já contar com Facundo Bridge, ainda muito jovem, mas também Ezequiel Mena, Danilo Rampulla e Conti Acevedo.
Segunda-feira, 21 de Novembro de 2022, 23h31