Um 'Mercado' por regular

Por José Pedro Silva

Ainda a época vai a meio, já são muitos os rumores de movimentações. O 'mercado' prejudica invariavelmente os clubes formadores e as taxas de transferência de atletas ditos 'livres' só recheiam os cofres de associações e federação.

Um 'Mercado' por regular

Entramos no mês de fevereiro e, ainda o campeonato PLACARD de Hóquei em Patins vai a meio, já são muitos os rumores de movimentações e "transferências" que se avizinham, podendo vislumbrar-se um esboço dos plantéis para a próxima época desportiva. Esta é uma situação recorrente e, fazendo uma visita ao arquivo das últimas temporadas, verificamos que é uma característica padronizada da modalidade, já que são inúmeras as notícias que reportam a mudança de jogadores para novos clubes.

Sendo o Hóquei em Patins uma modalidade dita amadora, os regulamentos são omissos quanto a um designado "mercado de transferências". De facto, o artigo 15º do Regulamento Geral do Hóquei em Patins é claro ao estatuir que todos os atletas são livres, no final de cada época desportiva, de se transferirem para outros clubes, sendo sujeitos unicamente ao pagamento das taxas de transferência correspondente. Esta norma beneficia, apenas, a Federação de Patinagem de Portugal (FPP) e as Associações, uma vez que as receitas provenientes das taxas de inscrição anual dos atletas, e outros representantes dos Clubes, são repartidas, em partes iguais, pela FPP e pelas Associações de Patinagem que efetuam as inscrições em questão, conforme artigo 23º do Regulamento Geral do Hóquei em Patins.

Mas, esta mesma norma, lida no seu contexto, pode restringir a liberdade do atleta e tolher a opção dos clubes. Afirma, por um lado, que o atleta no final da época se encontra livre, mas, por outro lado, que, caso o atleta se inscreva por outro clube, a FPP exige o pagamento de uma taxa de transferência, a qual, em bom rigor, não acontece, uma vez que o atleta está livre para "assinar" pelo clube que melhor lhe aprouver, sem ser sujeito a qualquer transferência.

Naturalmente, neste caso, os clubes são principais financiadores da FPP, sendo, também, os mais prejudicados a nível financeiro. Consequentemente, os clubes com menores recursos financeiros são os maiores lesados, na medida em que se encontram impedidos de competir com atletas de maior valia, atentos os valores exigidos, quer para a "transferência", quer para a inscrição do atleta.

Apesar de penalizadora para todos os clubes, em última análise, e devido às enormes discrepâncias verificadas na modalidade, este tipo de regulamentação acaba por beneficiar apenas os clubes com maiores orçamentos; estes continuam a aliciar, facilmente, atletas promissores, sem que o clube atual do mesmo seja recompensado, devidamente, pela sua perda.

Esta situação torna-se, particularmente, gritante quando incide sobre jovens atletas e de formação. Os clubes formadores (na sua grande maioria, amadores) não recebem qualquer compensação pelo "investimento" feito, continuando apenas a FPP e as Associações a beneficiarem financeiramente pela dita "transferência".

Sendo certo que o Hóquei em Patins não tem a dimensão de outras modalidades, será tempo de ponderar um maior escrutínio do "mercado de transferências", nomeadamente, permitindo que os clubes efetuem contratos de maior duração com os seus atletas e que sejam compensados pela sua perda, aquando de uma hipotética transferência.

Será, também, tempo de equacionar uma valorização dos clubes que dedicam muito do seu tempo à iniciação e à formação de novos atletas, e permitir que uma pequena percentagem do valor de transferência seja salvaguardada para os mesmos. Assim, não só se reconheceria o contributo destes clubes para a valorização e futuro da modalidade, como também levaria a decréscimo de dispersões de jovens jogadores do seu clube formador.

Por fim, e aceitando-se diferente entendimento, não parece admissível que a transferência de um atleta proveniente do estrangeiro gere um valor 2.4 vezes superior a uma transferência entre clubes da I Divisão. Compreendendo-se que a taxa seja superior, atendendo aos valores necessários para a obtenção do Certificado Internacional de Transferência da World Skate, já não parece aceitável a enorme receita gerada por esta transferência, destinada aos cofres da FPP. Esta situação bloqueia a porta de entrada a alguns atletas, dado que nem todos os clubes possuem as condições financeiras exigidas pela FPP.

No mais, é perfeitamente aceitável e natural que os clubes comecem com o seu planeamento para a época desportiva seguinte com a devida antecedência, tentando encontrar as melhores soluções (atletas, treinadores e staff), para alcançarem os resultados a que se propõem.

Não se vislumbrando tempos de mudança, certo é que nas próximas semanas ou até dias surjam mais rumores de entradas e saídas para o próximo mercado de Verão.

1 de agosto é já ali.

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