Um Clássico nas decisões
Argentina e Portugal defrontaram-se nas últimas duas finais do Campeonato do Mundo e as últimas três finais da Taça das Nações. Um Clássico mundial que tem reclamado protagonismo, com muitos jogadores do campeonato português.
Quando a Argentina conquistou o Campeonato do Mundo de 2015, interrompeu o domínio espanhol, que já ia em cinco vitórias consecutivas. A Espanha voltaria a sagrar-se campeã em 2017, mas já não tinha hegemonia e essa final seria, após 2015, a excepção na disputa de competições a nível mundial. A discussão final passava a ser entre Argentina e Portugal.
Apesar de somarem agora 22 títulos mundiais em conjunto, Argentina (agora com seis títulos) e Portugal (16) só se tinham encontrado uma vez na final do Mundial até se encontrarem em 2019. Foi em 1995, no Recife (Brasil), quando a Argentina venceu por 5-1 para somar o seu terceiro título, quando Portugal já contava 14.
Afirmação do campeonato à beira-mar plantado
Em 2015, na sua quarta final consecutiva, a selecção albiceleste tinha dois jogadores no campeonato português - Carlos López e Carlos Nicolia - e um terceiro, Reinaldo Garcia, estava para regressar. Na aposta (financeira) dos clubes, o campeonato português dava os primeiros passos na afirmação plena como o melhor campeonato do Mundo, um oásis da modalidade. Tal implicava ter os melhores jogadores e muitos dos melhores são argentinos. E quando bons jogadores jogam com outros bons jogadores, ficam ainda melhores.
Em 2017, Argentina e Portugal defrontaram-se na final da Taça das Nações. A albiceleste venceu por 6-5, mas no Mundial não foi além das meias-finais na prova ganha por Espanha. Em 2019, Argentina e Portugal encontraram-se na decisão de Montreux e na decisão em Barcelona. A selecção das quinas levou duplamente a melhor, vencendo por 5-3 na Taça das Nações e, naquela exibição épica de Ângelo Girão perante a avalanche ofensiva albiceleste, no desempate por grandes penalidades, depois de nulo ao fim de 60 minutos, no Mundial.
Dessa Argentina do Mundial de 2019, apenas Valentin Grimalt e David Paez não jogavam na I Divisão portuguesa. Passou uma pandemia, consolidaram-se os clubes portugueses, e na final de 2022, por infortúnio de Pascual, apenas Grimalt entre os albicelestes não jogava em Portugal. Curiosamente, nessa final ganha pela Argentina por 4-2, até Portugal, com os blaugrana João Rodrigues e Hélder Nunes, tinha mais jogadores de outros campeonatos que não o português.
Valor acima de qualquer suspeita
Volvido dois anos do duelo em San Juan, Argentina e Portugal voltaram a encontrar-se na decisão de um troféu. No regresso da Taça das Nações, na antecâmara do Mundial que terá lugar em Itália, "Negro" Paez montou um elenco em que apenas Grimalt e Reinaldo Garcia não actuam em Portugal, mas "Nalo" soma nada menos que 14 épocas no campeonato português.
Entre os oito que jogam em Portugal, o valor é indiscutível e, generalizadas discussões de "tapar o espaço a portugueses" à parte, dificilmente os treinadores e adeptos de Porto (Mena), Sporting (Bridge e Romero), Oliveirense (Martínez e Navarro), Benfica (Ordoñez) ou Óquei de Barcelos (Conti e Rampulla) abdicariam dos seus argentinos, uma fonte de talento que se vai renovando.
Em relação à final de San Juan, Portugal usou na decisão de Montreux duas novidades: Xavi Cardoso e Gonçalo Pinto. A Argentina teve três caras novas. Bem, duas novas, Danilo Rampulla e Facundo Navarro, e o regresso de um velho conhecido, Reinaldo Garcia.
No conjunto das escolhas dos seleccionadores “Negro” Paez e Paulo Freitas, o argentino dispunha dos três jogadores mais velhos: Reinaldo Garcia (41 anos) e Lucas Ordoñez e Lucas Martínez (ambos com 35).
No entanto, no pólo oposto, metade dos jogadores de pista que vestiram a albiceleste em Montreux - Facundo Navarro (23), Facundo Bridge (24) e Danilo Rampulla e Ezequiel Mena (25) - são mais novos que o mais novo dos oito jogadores de pista portugueses, Gonçalo Pinto, que já completou 27. E o ritmo imposto pelos “pibes” argentinos, principalmente com Portugal a ter menos uma opção na lesão de Gonçalo Alves, foi determinante no desequilíbrio de mais um duelo por um troféu.
Quarta-feira, 3 de Abril de 2024, 13h24