«Sair a ganhar deixa-te mais tranquilo do trabalho feito»

Num Campeonato do Mundo marcado por despedidas anunciadas, Guillem Cabestany teve a mais saborosa. O técnico catalão que orientou o Porto em seis temporadas despede-se de 'La Roja' com o título Mundial depois da conquista de dois Europeus.

«Sair a ganhar deixa-te mais tranquilo do trabalho feito»

Foi um Mundial de despedidas. Dos guarda-redes Alain Audelin (França), Riccardo Gnata (Itália) e Ângelo Girão (Portugal), de Sergi Mayor da arbitragem, e de Matias Platero e Reinaldo Garcia da selecção argentina, que chegou à final. Nenhuma das despedidas foi tão perfeita como a de Guillem Cabestany.

Com a conquista do Campeonato do Mundo, Cabestany sai com um percurso em grandes competições quase perfeito.

Em 2021, o técnico catalão deixava o Porto ao cabo de seis temporadas. Acabaria por "trocar de cargo" com Ricardo Ares, que fora eleito para o lugar de Alejandro Dominguez, mas, em virtude da pandemia, não chegou a disputar qualquer partida como seleccionador da masculina absoluta. Ares foi o escolhido de Eurico Pinto e cumpria o sonho de chegar a um grande clube. Entre a vaga na selecção e o "tempo livre" de Cabestany, houve "casamento".

Conquistou o Europeu na estreia, em 2021, em Paredes, e novamente em 2023, em casa, em Sant Sadurní d'Anoia. Pelo meio, "falhara" no Campeonato do Mundo de 2022, ao perder com a França no desempate por grandes penalidades nos quartos-de-final.

Redimiu-se agora. Voltou a empatar com a França (1-1), mas venceu Chile (0-12) e Itália (4-3) na primeira fase. Nos quartos-de-final, derrotou a Suíça (7-0) e, nas "meias", desta vez a "lotaria" sorriu-lhe, batendo Portugal nas grandes penalidades (6-7) antes de se consagrar frente à cessante campeã mundial, a Argentina (2-1).

Cabestany venceu com apenas um jogador do "Melhor Campeonato do Mundo" (Nil Roca). Aproveitou os processos e rotinas de quatro jogadores do Barcelona (Carles Grau, Marc Grau, Ignacio Alabart e Pau Bargalló), mas este Barcelona não vence a concorrência portuguesa na Europa desde 2018.

"É um prémio para todos. Personalizando, sair a ganhar deixa-te mais tranquilo do trabalho feito", desabafou. E as vitórias, as suas vitórias, vão além do título de Seniores Masculinos. "Sou o seleccionador, mas também o Director-Técnico, e também ganhou o feminino e os Sub-19, imagina a felicidade de ganhar o triplete aqui. Fico muito contente e descansado", reforçou.

O anúncio prévio da sua saída [vai treinar o Calafell no regresso ao trabalho diário de clube], "tirou tensão do ambiente". "Não sei como seria se não fosse a última competição. Trabalhámos igual, mas com mais alegria que o habitual", referiu. E agradeceu aos jogadores. "Trabalho, atitude, nota 10 para todos eles", reconheceu.

E não esqueceu quem não esteve no lote final. Cabestany teve palavras para Xavi Barroso, que se lesionou dias antes da competição. "Um dos líderes da equipa nestes quatro anos. Esteve a ajudar o staff durante os jogos", revelou. E também para Toni Pérez, "em Portugal, a dar forças", e para Nil Cervera e Blai Roca, "a ajudar nos treinos". Quis agradecer a todos os jogadores ao longo destes quatro anos. "De certeza que deixei jogadores chateados, é normal", constatou.

"Depois de ganhar, parece que as escolhas foram as melhores. Pensas em ter os melhores jogadores e construir a melhor equipa", explicou. "Na primeira parte, a equipa brilhou muito para que as pessoas dissessem que são os melhores jogadores. Na segunda, sacrificou-se, deixaram a pele em pista, para mostrar que eram a melhor equipa", analisou.

Agora, passa o testemunho ao amigo Pere Varias, com a fasquia alta: a Espanha é campeã europeia e mundial. Impunha-se a mudança. "Ciclos muito grandes não são bons. Vai ser bom. A federação pode ficar tranquila", assegurou.

Apesar de ter uma selecção vencedora, não havia qualquer órgão espanhol presente, sendo a ponte com a comunicação garantida pelos assessores federativos. "Já não tenho nenhuma aspiração a que o Hóquei seja super mediático. Estiveram órgãos portugueses e é de valorizar o mediatismo do Hóquei em Portugal. Em Espanha há, mas não no mesmo nível. Como em Itália. De Argentina, sim e estiveram cá muitos meios argentinos", reflectiu. "Temos de desfrutar como é, e tentar potenciar aos máximo o que temos. Foi uma excelente final", sublinhou.

Para o fim ficaram palavras sobre a família. Uma família poliglota - que fala, pelo menos, quatro idiomas diferentes - à força no acompanhamento da carreira de Guillem Cabestany, da Catalunha para Itália, de Itália para Portugal e de regresso à Catalunha. Laia, Maria e o Guillem mais jovem, tal como o Guillem mais velho, falam catalão, castelhano, italiano e português. E aturam, talvez nos vários idiomas, o "mau humor" do agora seleccionador campeão da Europa e do Mundo.

AMGRoller Compozito

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