«Ficou marcado pela maldita bola do poste»
Em estreia numa grande competição, Nuno Lopes retirou ensinamentos para os próximos desafios da França e deixa recados sobre o Mundial. Os gauleses terminaram em 5º, depois do afastamento nos 'quartos', e despediram-se de Alain Audelin.
A França terminou o Campeonato do Mundo de 2024 em 5º lugar depois de vencer Angola por 2-8. Na véspera, a vitória sobre a Suíça, por 9-2, garantia desde logo a continuidade da vaga no Mundial "A", e a partida com a selecção angolana era uma formalidade. Mas emotiva para Nuno Lopes, no duelo com os seus ex-jogadores João Pinto e Rafa Lourenço (Sporting) e Nery e Francisco Veludo (Tomar) e dos actuais André Centeno e Gonçalo Neto.
No final da partida, importava mais o rescaldo de todo o Mundial e do mês de trabalho de Nuno Lopes com "les bleu", na estreia do técnico numa grande competição. "Ficou marcado pela bola do poste", lamentou Nuno Lopes.
A França empatou a um com a então campeã europeia, agora também campeã do Mundo, Espanha, num jogo que foi "o mais bem disputado". Perdeu tangencialmente com a anfitriã Itália por 0-1, numa "grande exibição do guarda-redes da Itália" e venceu confortavelmente o Chile por 6-1 no fecho da fase de grupos, apesar dos chilenos apostarem claramente tudo nesta partida.
Nos quartos-de-final, perderia 4-2 com Portugal. A 30 segundos do final, a França perdia por 3-2 e dispôs de um livre directo. Com Girão batido, a bola - a "maldita bola" - foi ao poste.
A derrota com a selecção das quinas remeteria os gauleses para a luta pelo 5º lugar. Venceu a Suíça por 9-2 e Angola por 2-8 e garantiu o melhor lugar possível em virtude da derrota nos "quartos", terminando com apenas 11 golos sofridos em toda a prova, apenas aquém da campeã Espanha.
"Foi um mês de grande satisfação pessoal", referiu Nuno Lopes. "Ninguém me pediu o título mundial. Não conseguimos o que queríamos, mas há um caminho nisto tudo. Gostava de ganhar à primeira, mas não tem sido assim", sublinhou.
"Tem de haver investimento"
Na sua primeira vez em grandes competições, Nuno Lopes não deixou de ser crítico, para memória futura.
"É preciso não esquecer que o Mundial começou com duas redes na baliza", recordou, afirmando que, uma semana depois um remate que podia ter mudado a história de uma final e um título, o tema parecia esquecido.
Sobre a divulgação, frisou a presença em conferências de imprensa do HóqueiPT, questionando a ausência de jornalistas italianos e espanhóis, sendo que outra imprensa portuguesa marcaria presença, mas nos jogos de Portugal, não sendo de somenos importância o acompanhamento assegurado pelas próprias federações. Mas faltou cobertura genérica ao Campeonato do Mundo.
"O Hóquei precisa de outra dimensão, talvez de mexer nas regras. Precisamos de uma modalidade muito mais forte. Tem de haver investimento", reclamou Nuno Lopes, visando a comunicação, a urgência do "chip" na bola, ou o VAR que já devia estar implementado. "Há dinheiro para muita coisa, tem de haver dinheiro para termos uma modalidade limpa", vincou.
Um "5x3" inovador
Houve espanto no pavilhão quando, ainda na primeira parte e a vencer por 1-4, a França tirou o guarda-redes para colocar um quinto jogador de pista quando Angola ficou em inferioridade numérica
O "5x4 [traduzido em 5x3 em jogadores de pista] não foi desrespeito para ninguém", ressalvou Nuno Lopes. A inusitada situação tinha sido falada no estágio de preparação e o técnico, perante alguma indignação dos adversários, disse que vai ficar atento para o caso de voltar a acontecer. "A França foi a primeira a fazer", lapidou.
Adeus a Alain Audelin
O Mundial de despedidas deixa a sua marca na selecção francesa pelo adeus a Alain Audelin, guarda-redes que completou 31 anos poucos dias antes do início da competição.
Bruno Di Benedetto apontou a complicação de encontrar o sucessor. "Temos o Pedro, que é muito bom e fez um grande Mundial, mas quem vem?", questionou, reconhecendo que, para os jogadores não profissionais, sem apoio da federação, há sempre questões familiares e profissionais a pesarem nas ausências a que as grandes provas obrigam. Nem é o problema de não ganharem dinheiro, é que acabam mesmo por perder.
Bruno confia em Nuno Lopes para encontrar sucessor de Audelin, reforçando o sentimento, que o capitão Carlo já antes transmitira, de ser o homem certo no lugar certo e apontando a uma longa ligação. Apesar de um 5º lugar desde logo ditado por aquela bola ao poste...
Domingo, 29 de Setembro de 2024, 11h46