O 'Maior de Portugal' é o maior da Europa!
Numa decisão nas grandes penalidades frente ao Porto, o Óquei de Barcelos venceu a Champions League. É a segunda conquista dos barcelenses na mais importante prova europeia, 34 anos depois.

"E o Barcelos é o Maior de Portugal", ouviu-se inúmeras vezes no Centro de Desportos e Congressos de Matosinhos este fim-de-semana, tivessem os adeptos do Óquei de Barcelos mais ou menos lugares. E, 34 anos depois, voltaram a ser campeões da Europa, ao vencerem a Champions League.
Na final deste domingo, o Óquei de Barcelos venceu o Porto por 3-1 no desempate por grandes penalidades.
Foi o sétimo embate entre as duas equipas esta época, e já se tinha visto de tudo um pouco. Desta vez, o Porto dominou a primeira parte, controlando o jogo e chegando sempre com mais perigo, em particular por Carlo Di Benedetto. A meio destes primeiros 25 minutos, o internacional gaulês esteve perto do golo ao rematar ao poste, "passeando" depois a bola por trás de Conti ao som de um enorme bruá na bancada, mas sem entrar.
O guarda-redes argentino do Óquei de Barcelos ia segurando a igualdade, muitas vezes a desesperar com os seus companheiros na falta de acompanhamento, no esquecer das marcações. A oito minutos e meio do intervalo, nada pôde fazer quando Edu Lamas serviu Carlo a meia altura para o primeiro - e já merecido - golo dos dragões. Mantendo-se por cima até ao intervalo, a vantagem da equipa de Ricardo Ares, em busca do segundo título europeu em três anos, pecava por escassa.

Na segunda parte, entrou em pista outro Óquei de Barcelos, com a "alma" que faltara na primeira parte, respondendo ao puxão de orelhas que Rui Neto confessou no final da partida.
Muito cedo, reclamou-se um corte no chão para azul, mas demorou mais de um minuto até haver interrupção para os árbitros espanhóis Ruben Fernandez e Daniel Villar poderem consultar o Sistema de Revisão Vídeo. Talvez algo a rever no protocolo, dado que, no ímpeto com que entraram na segunda parte, os barcelenses até tiveram oportunidade para marcar e o golo seria anulado...
Confirmado o azul a Carlo Di Benedetto e recuado o tempo para pouco mais de um minuto contado, Xavi Malián defendeu o livre directo de Miguel Rocha, para um festejo efusivo de guarda-redes e adeptos. Mas a celebração não duraria. Um minuto volvido, na superioridade numérica, o espaço sobrava para o goleador-mor da prova, e Miguel rematou forte para a igualdade, passando a contar 18 golos oficiais em 14 jogos a que juntou mais três na pré-eliminatória no já distante início de Novembro.
O golo alimentou a tal "alma". Para os adeptos barcelenses, integrados na Kaos ou saudavelmente contagiados pelo espírito inquebrável daquela claque, era igual. A ganhar ou a perder. Ou empatados, em busca da vitória. Porque foi o Óquei de Barcelos quem mais a procurou.

Em transições rápidas, agressivos a recuperar a bola, a equipa de Rui Neto dominou grande parte da segunda parte. Agora, era com os barcelenses que os deuses do desporto eram injustos. Ou, talvez, Xavi Malián, que, como Conti na primeira parte, segurava a sua equipa e foi abençoado por um beijo da bola no seu poste direito, o mesmo que evitara o golo portista na primeira metade de jogo.
À entrada dos derradeiros 10 minutos, Ricardo Ares pedira um desconto de tempo que mudava um pouco o jogo e o Porto, mesmo abdicando da participação de Gonçalo Alves, ia criando cada vez mais perigo. O técnico basco do Porto pedia mais aos seus jogadores e pedia mais aos seus adeptos, puxando por uma bancada que correspondia. O jogo podia pender para qualquer uma das equipas e só o tempo, na sua imparável caminhada, estava contra uma grande partida, com uma atmosfera incrível.
No último dos regulamentares 50 minutos, Rampulla pediu azul numa falta de Edu Lamas e o Sistema de Revisão Vídeo ajudou os árbitros a darem-lhe razão. Miguel Rocha tinha novo duelo com Malián, com oportunidade de garantir a conquista europeia, mas o guarda-redes dos dragões voltou a ganhar. De herói em tantas partidas, Miguel podia ter passado a vilão na ingratidão de muitos adeptos. Mas não dos barcelenses.
O Óquei de Barcelos teria superioridade numérica no derradeiro minuto da segunda parte e no primeiro da primeira parte do prolongamento, mas sem conseguir adiantar-se. Para o tempo extra, começavam a faltar pernas a todos.

Rui Neto até usou Chambella este domingo, mas pouco tempo. E não contou com o contributo de Poka, com a mão esquerda ligada. Sendo que dizer que Poka não contribuiu é muito injusto com o jogador que representou Sporting, Porto e Benfica, mas a que faltava este título europeu. Foi um adjunto incansável, dando inúmeras indicações, o mais interventivo do banco, corrigindo os seus companheiros.
Do lado dos dragões, Ricardo Ares não pôde contar com Telmo Pinto, que nem os patins poderia calçar, e optou por não usar Diogo Barata ou Tomás Santos. E este era o segundo prolongamento em dois dias.
Na falta de pernas de parte a parte, a condição física não foi factor de desequilíbrio. Houve oportunidades das duas equipas para se adiantarem, mas houve também dois enormes guarda-redes que não deixaram. E levaram a decisão para prolongamento.
Na terceira vez na História que a mais importante competição europeia foi decidida de grandes penalidades (o Reus venceu em 2009 e o Trissino em 2022), avançou Gonçalo Alves para o primeiro penálti, mas caberia a Hélder Nunes o primeiro remate. Conti defendeu. E Malián defendeu a tentativa de Miguel Rocha, o único que marcara no desempate com o Liceo nos quartos-de-final.

Depois, Conti voltou a brilhar perante Edu Lamas. E Pedro Silva desfeiteou Mali. O autor do golo que valera a Supertaça voltou a ser decisivo. Gonçalo Alves também não conseguiu bater Conti, e Luís Querido, com protestos dos azuis-e-brancos, dilatava a vantagem, colocando toda a pressão sobre Rafa.
O jogador que nasceu em Viana, mas cresceu em Barcelos, um dos melhores e mais inconformados do Porto a par de Di Benedetto e Malián este fim-de-semana, também não conseguiria fazer a bola passar por aquela muralha argentina que dá pelo nome de Conti.
E começava a festa barcelense.
A euforia, as lágrimas, os cânticos que ainda conseguiam ir um tom acima. Tudo a que tinham direito depois de uma espera de 34 anos que faziam a primeira conquista perder-se na memória de muitos e que nem podia estar na memória de qualquer jogador. Entre os jogadores, em 1991, só o capitão Luís Querido era nascido, mas, ainda nem um ano tinha completado.
Com este triunfo, o Óquei de Barcelos iguala o número de conquistas - duas - do Benfica na prova. Entre as equipas portuguesas, dominadoras da competição nos últimos anos, o Porto já venceu três vezes e o Sporting quatro, ainda distantes do número de triunfos do recordista Barcelona (22).

Meias-finais
• Benfica 2-3 Porto (2-2, 0-1 prol.) • 10.Mai
• Óquei de Barcelos 3-1 Noia • 10.Mai
Final
• Óquei de Barcelos 3-1 Porto (1-1, 0-0 prol., 2-0 pen.) • 11.Mai
Galeria de vencedores
Barcelona (22): 1973, 1974, 1978, 1979, 1980, 1981, 1982, 1983, 1984, 1985, 1997, 2000, 2001, 2002, 2004, 2005, 2007, 2008, 2010, 2014, 2015, 2018
Reus (8): 1967, 1968, 1969, 1970, 1971, 1972, 2009, 2017
Liceo (6): 1987, 1988, 1992, 2003, 2011, 2012
Igualada (6): 1993, 1994, 1995, 1996, 1998, 1999
Sporting (4): 1977, 2019, 2021, 2024
Porto (3): 1986, 1990, 2023
Voltregà (3): 1966, 1975, 1976
Óquei de Barcelos (2): 1991, 2025
Benfica (2): 2013, 2016
Trissino (1): 2022
Follonica (1): 2006
Noia (1): 1989
Domingo, 11 de Maio de 2025, 18h20