Uma 'chapada' da realidade
Pedro Alves dos Santos
Portugal não foi além do 5º lugar no Europeu de Sub-17 Femininos, num desfecho que é um alerta sobre o estado do 'feminino'. Agora, há um arriscado novo modelo para o Nacional de Sub-15, e uma enorme oportunidade de promoção no Euro.

Há uma semana, Portugal despertava para lutar pelo título europeu de Sub-17 Masculinos e, em contraste, por escapar ao último lugar no Europeu de Sub-17 Femininos.
No Hóquei em Patins feminino, Portugal nunca foi campeão do Mundo. Foi campeão europeu três vezes (consecutivas), mas a última já data de 2001. Ainda as novas internacionais de Sub-17 desta década eram nascidas. Mas também não é a classificação numa prova internacional que deve ser o atestado de uma boa ou má formação, de bons ou maus campeonatos nacionais.
Em 2023, Portugal venceu o campeonato da Europa de Sub-17 Femininos. Em 2024, foi vice-campeão, só perdendo nas grandes penalidades. Agora, em 2025, terminou em 5º, só somando vitórias frente a Inglaterra. Mas nem tudo estava bem em 2023, nem tudo está mal em 2025. As provas de selecções reflectem apenas, numa semana, a capacidade ou o momento de 10 atletas. Ou, atendendo às distintas realidades, Portugal sairia sempre goleado frente a Espanha.
Colocando em perspectiva, na época que terminou houve nove equipas a disputar, em apenas três dias, o Nacional de Sub-19. E assinaláveis 12 equipas a disputar, em três momentos de três dias cada, o Nacional de Sub-15. Sendo que estas equipas, na generalidade dos casos, são formadas com atletas de outros clubes, numa espécie de selecções zonais, cabe destacar que só o catalão Palau tem 11 equipas femininas em competição. E não é uma excepção. Mais equipa, menos equipa, é a regra no desporto catalão.
"Compromisso com o feminino" e um novo modelo
Na tomada de posse em 2024, o vice-presidente para a modalidade José Luís Pinto vincou a aposta na vertente feminina e, em recente entrevista institucional ao zerozero reforçou essa aposta, recordando a mudança de modelo competitivo com uma primeira fase regional de custos mais controlados [ndr: ainda que as duas zonas desta época fossem mais onerosas que as três da época anterior] e a criação da Taça Nacional para prolongar a temporada das equipas que não vão disputar o título, num "post season" que vem sendo reclamado até num Campeonato Placard em que muitas equipas têm quase cinco meses de "férias".
Apontando à base, José Luís Pinto refere nessa sua declaração a alteração de modelo competitivo nos Sub-15, destinado a atletas Sub-15 e Sub-13. Cruzando o Regulamento Geral com o Planeamento, estão previstas 14 jornadas e uma Final Eight, depreendendo-se que as 14 jornadas preveem duas zonas de oito equipas.
Tal implicará mais deslocações e a recorrente "transferência" de atletas entre os seus clubes e as equipas que vão representar no Nacional, dado que poucos clubes têm "massa crítica" para terem equipas, mesmo que de um guarda-redes e seis jogadoras de pista, sem "emprestadas" e serem competitivas. Porque, necessariamente, - e faz parte do desporto - quererão ser competitivas.
Condições
"Não cobramos taxas de organização de jogos para o campeonato sénior feminino, as taxas de arbitragem para uma época ficam por volta de 1400 euros. São estes os custos, além dos custos de inscrições de atletas, onde metade do valor é dividido entre associações e federação. Damos as condições todas para que as equipas femininas sejam criadas", refere José Luís Pinto, abstraindo-se do ecossistema total dos clubes.
Se há facilidades apontadas na criação de equipas femininas, e já "esquecendo" outros necessários custos de toda a temporada, é preciso não ignorar a realidade de clubes onde, por exemplo, poderá ser necessário investir em marcadores electrónicos de 45 segundos e alguém que os controle, ou que terão de assegurar, com meios próprios, a gravação e transmissão das partidas.
Porque a realidade dos nacionais jovens femininos, não é a dos clubes do elogiado "Melhor Campeonato do Mundo". Desses 14 clubes, os que recebem dividendos do patrocínio do Placard, nenhum - nem um! - levou uma equipa aos Nacional de Sub-19 Femininos ou Nacional de Sub-15 Femininos.
Oportunidade de promoção
Em Setembro, Portugal lutará pelo título europeu de Seniores Femininos. Sendo favorito a disputar o troféu numa final com a Espanha, é preciso estar consciente de que uma eventual conquista não dirá nada sobre a realidade do Hóquei em Patins feminino português.
No entanto, a realização do Europeu em Paredes pode ser, com a devida promoção e visibilidade, fulcral para cativar mais jovens atletas. É com a Selecção Nacional, mais do que no trabalho de clubes, que pode surgir a "base" desejada.
Não faltam relatos daqueles que se apaixonaram pela modalidade, que quiseram ser jogadores ou até daqueles que quiseram criar clubes nas "asas" das prestações da selecção das quinas em campeonatos do Mundo e da Europa amplamente difundidos.
Que não seja (mais) uma oportunidade perdida.
Pedro Alves dos Santos
Sábado, 26 de Julho de 2025, 10h42