«Tenho feito o meu percurso, ganho o meu espaço e tenho mercado em Itália»
Diogo Neves vive uma situação complicada em Itália, epicentro mundial da pandemia do novo coronavírus e da CoViD-19. Sozinho em Trissino, onde o “positivo” de Dal Santo antecipou a quarentena, completou 26 anos no passado dia 17, num aniversário peculiar.
Esta segunda-feira, o jogador do Trissino foi o convidado do "Vamos Falar de Hóquei em Patins", numa conversa que foi muito para lá das inusitadas circunstâncias do presente.
Almeirinense, chegou muito jovem ao Sporting, com uma rotina diária entre Almeirim e o Tojal complicada, mas onde se afirmou como um dos grandes talentos da sua geração, conquistando títulos sucessivos.
A mudança para os Sub-20 do Benfica não foi bem aceite por todos. "Foi vista um bocado como uma traição", conta-nos, explicando os seus motivos. Quando a realidade leonina estava longe da realidade de agora, as águias e o acordo com a Lusófona permitiram a Diogo a conclusão da formação académica, sem sobrecarregar os pais. "Serviu para aliviar os pais de um sacrifício de oito anos, em que deixaram de viver a vida deles para viver a minha", recorda.
Nos encarnados sagrou-se campeão nacional de Sub-20 e da III Divisão. No primeiro ano de sénior, esteve cedido ao Paço de Arcos, rumando em 2015 aos catalães do SHUM, de Maçanet, onde ganhou um mentor e um amigo no treinador Jordi Rodríguez (“Rodri”) que o apresentou a um Hóquei muito táctico, com um estudo detalhado de todos os pormenores.
Esteve na Catalunha apenas um ano, embarcando depois na aventura italiana, apesar de propostas para continuar na OK Liga (como, por exemplo, de Igualada e Noia). Esteve três temporadas no Bassano, um histórico do Hóquei patinado italiano que mergulharia numa crise financeira, e no último defeso foi aposta no projecto ambiciosa do Trissino.
A suspensão chegou com a equipa onde partilha balneário com os históricos Reinaldo Ventura (colega) e Sérgio Silva (treinador) em quinto lugar, mas a lutar pelo terceiro antes da fase decisiva dos play-offs. E com lugar na Final Eight da Coppa Italia e um patim na Final Four da Taça WSE, depois de uma goleada na primeira mão dos “quartos” frente ao Dornbirn.
Para Diogo Neves, é praticamente certo que não voltará a jogar esta época, e avança a sua sugestão para resolução da Série A1: cancelamento, sem campeão nem descida, e subida das duas equipas mais bem classificadas da Série B, para um campeonato a 16 na próxima temporada.
Para a temporada ainda em curso, o Trissino foi transfigurado e a equipa ainda não tinha atingido o seu total potencial, mas a direcção buscava resultados imediatos. Assim, haverá nova revolução e, com a mudança de treinador - sai Sérgio Silva, entra Nuno Resende (Lodi) - e outras mudanças no plantel, Diogo Neves está de saída.
"Sei que não vou continuar no Trissino", revela, estando a estudar propostas para a continuidade em Itália, onde se sente valorizado e ganhou o seu espaço apesar da restritiva limitação de (três) estrangeiros.
A dupla-nacionalidade é mesmo equacionada, mas a necessária mudança de residência só aconteceu há um ano, o que atrasará o processo. Poderá ser italiano com30 ou 31 anos, mas não descarta inclusivamente uma chamada à selecção transalpina, apesar do histórico de quinas ao peito.
Em 2013, Diogo sagrou-se campeão do Mundo de Sub-20, apesar de ter começado a preparação a sair de um internamento de uma semana. "No primeiro dia do estágio parecia um cadáver", lembra, recordando que Luís Duarte o tranquilizou, fazendo-o chegar em pico de forma a uma final em que inclusivamente foi considerado o melhor em pista.
Três anos volvidos voltou às contas da selecção, jogando a Taça Latina em Follonica em 2016. "O Hélder [Nunes] estava endiabrado e nós demos um bocadinho de suporte", refere sobre um triunfo categórico.
De resto, Hélder Nunes é para já o único a afirmar-se na selecção principal dessa geração, “tapada” por outros valores que já se tinham afirmado.
O regresso a Portugal é ambicionado, mas não é tão “urgente” como já foi. Olhando para os emblemas nacionais, Diogo tem ainda “atravessada” uma proposta do Óquei de Barcelos de Paulo Freitas, quando ainda era Sub-20, gorada na altura pelos estudos. Confessando que gostaria de voltar ao “seu” Sporting, olha com admiração para um Porto em que se revê. E onde está por exemplo Gonçalo Alves, com quem jogou nas camadas jovens dos leões e de quem recorda um episódio particular, quando o atacante dos dragões foi protagonista - o que por estes dias se estranha pouco -, não por marcar, mas como guarda-redes.
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Terça-feira, 31 de Março de 2020, 23h57