Os 'Jogos sobre Rodas' e o Hóquei em Patins
Pedro Alves dos Santos
Esta sexta-feira, arrancam os World Skate Games, uma espécie de Jogos Olímpicos sobre rodas, concentrando mundiais de várias disciplinas. O Hóquei em Patins, neste 'associativismo', sai a perder ou a ganhar?
Anunciados a partir de 6 de Setembro, os World Skate Games arrancam já esta sexta-feira, com o Campeonato do Mundo de Juniores de Feminino de Hóquei em Linha, em Roccaraso.
O Hóquei em Linha é uma das disciplinas da Patinagem que tem Mundiais jogados nesta espécie de Jogos Olímpicos sobre rodas. Em Itália, serão 12 as disciplinas, várias sem expressão - ou tradução - em Portugal, incluindo o Hóquei em Patins.
O "sonho" dos "Jogos" foi concretizado em 2017, em Nanjing, na China. Então como World Roller Games, designação que se manteria em Barcelona, em 2019, mas que, face à afirmação olímpica do Skate, mudaria para World Skate Games em 2022, em San Juan.
O parto teve as suas complicações, um pouco como em tudo o que está umbelicalmente ligado ao Hóquei em Patins. A primeira edição estava apontada a Barcelona, mas, por motivos financeiros, a Catalunha abdicaria dessa organização, adiando-a dois anos.
Na China, o Hóquei em Patins teve o seu primeiro choque de realidade no Mundo da Patinagem. Se algumas disciplinas atraíam muita gente, os pavilhões do Hóquei em Patins estavam recorrentemente vazios, com "adeptos" a aproveitarem para uma soneca nas bancadas. Muitas crianças de escolas locais foram chamadas para figuração, mas dificilmente alguma seguirá as pisadas dos anónimos astros que disputaram os ceptros mundiais.
Houve mais público na Catalunha e, no pós-pandemia, uma autêntica celebração no Aldo Cantoni, em San Juan. Pelo menos, se nos mantivermos na luz dos holofotes mediáticos.
Há três escalões de Hóquei em Patins em competição nos World Skate Games: Seniores Masculinos, Seniores Femininos e Sub-19 Masculinos. Mas, por exemplo, em Itália, há uma subdivisão em sete campeonatos, atento o nível - e últimas classificações - das equipas. E tal obriga à dispersão de jogos, afastando logisticamente as nações em que a modalidade está em desenvolvimento do palco principal.
Por outro lado, a necessidade de múltiplas e dispares infra-estruturas também obriga a que as diferentes disciplinas tenham pouco contacto. O Hóquei em Patins está sediado em Novara. O Hóquei em Linha arranca em Roccaraso, a 750 km de Novara. A disciplina geograficamente mais próxima do Hóquei em Patins, será a Patinagem Artística. Em Rimini, a 400 km.
Em Abril último, em entrevista ao Record, reiterando o que já afirmara ao mesmo diário em 2022, Luís Sénica, presidente da Federação de Patinagem de Portugal e da World Skate Europe, orçava a realização dos "Jogos" em 10 a 12 milhões de euros. Incomportável e afastando a ideia da realização de um Campeonato do Mundo de Hóquei em Patins, seja em que escalão for, em Portugal. E tal, pese a paixão portuguesa pela modalidade, não acontece desde 2011, quando Barcelos recebeu a competição de Sub-20, então com 15 equipas e recorrendo apenas ao Municipal de Barcelos.
Este ano, em Itália, juntam-se 66 equipas para o Hóquei em Patins, representativas de 29 nações distintas. Nos Seniores Masculinos, há 27 selecções para um total de 78 jogos, 13 por dia na primeira fase. Nos Seniores Femininos, são 19 as selecções, para 54 jogos, nove por dia na primeira fase. Nos Juniores Masculinos, são 20 selecções, chegando aos 60 jogos, com 10 por dia na primeira fase.
Se os Juniores jogam de 8 a 14 de Setembro, a organização entre os Seniores, de 16 a 22, obriga a um esforço acrescido e, para acomodar um total de 22 jogos por dia na primeira fase, foram destacados quatro pavilhões: Pala Igor, Pala Verdi, Pala Del Lago e Centro Desportivo de Novarello. Naturalmente, nem todos com as mesmas condições, mas relativamente perto entre si, sendo a maior distância entre o Pala Igor e Novarello, cerca de 18 km que serão feitos em 20 minutos de carro. E não será fácil encontrar uma sede que tenha - com mais ou menos qualidade - tantas infraestruturas próximas.
Na prática, o Hóquei em Patins acaba por ficar isolado do resto dos World Skate Games. Ganhará com a máquina organizativa? Para as federações participantes, há sinergias financeiras com o Hóquei em Patins quando a disciplina mais próxima fica a 400 km?
Com todo o lastro - com o devido respeito - das restantes disciplinas, na balança entre a paixão dos actuais adeptos e a necessidade (ou obsessão?) de conquistar novos adeptos, não é maior o risco de se cair no esquecimento - de passar definitivamente de catalisador a "lastro" - com mundiais noutros países depois destes já terem passado por Espanha, Argentina e Itália e de Portugal não ter capacidade para os organizar?
Orgulhosamente sós ou alegremente mal acompanhados?
Pedro Alves dos Santos
Quinta-feira, 29 de Agosto de 2024, 12h03