Argentina vence Espanha numa ode ao Hóquei em Patins

O primeiro dia de Mundial fechou com um jogo extraordinário entre Argentina e Espanha, digno de uma final, abrilhantado por inúmeras estrelas do firmamento português. Lucas Ordoñez foi decisivo com um hat-trick.

8.Nov.2022 Mundial

O palco foi-se preparando. O Aldo Cantoni há muito que estava esgotado e ninguém faltou, num ambiente entusiástico. E, na pista, os artistas estiveram à altura, com um jogo vibrante, intenso, como se o Mundial acabasse. Mas foi só o fecho do primeiro dia.

Entre Argentina e Espanha, perfilaram-se para começar o jogo nada menos do que sete jogadores do campeonato português, nove deles dos "futeboleiros" Barcelona, Benfica, Sporting e Porto, a que se juntaram os árbitros lusos João Duarte e Rui Torres, para um espectáculo inolvidável.

Em dúvida estava Toni Pérez e, diz-se, por isso terá sido chamado Marc Julià a juntar-se a "La Roja", mas o atacante do Sporting até seria titular numa Espanha que se adiantaria aos três minutos e meio, num remate feliz de Xavi Barroso.

A Argentina estava em busca do golo. Esteve sempre, a perder ou a vencer. Mas a Espanha também não especulou, sendo vertical para um jogo "bola-cá-bola-lá" de múltiplas oportunidades. O Cantoni empurrava a albiceleste. Quem entrava era aplaudido como se de golos se tratassem. Mas a Espanha continuava a vencer. Ainda se festejou golo, mas João Duarte já apitara para assinalar falta anterior. Os argentinos teriam de esperar mais um pouco...

Aos 10 minutos, Ferran Font entrou e não tardou a ver azul, para um primeiro duelo entre Sergi Fernandez e Carlos Nicolia. Ganhou o espanhol, a selecção de Cabestany sobreviveu ao underplay, e mantinha-se na frente.

No banco, Dava Torres preparava-se para entrar, de olhos a brilhar, aos saltos como uma criança à espera de um presente, com aquela paixão que se lhe reconhece no Liceo e a personificar o desejo de muitos em pisarem a pista de um Aldo Cantoni repleto. Acabaria por ver um azul com poucos minutos no palco, e o livre directo valia a igualdade pelo stick de Lucas Ordoñez. O pavilhão explodia em torno do abraço cerrado dos benfiquistas Ordoñez e Álvarez e dos sportinguistas Romero e Platero.

A rivalidade clubística é uma circunstância, que termina ao apito final de cada partida, muitas vezes entre "rivais" que depois partilham a refeição. Será o caso de Ordoñez e Toni Pérez, azulados numa disputa mais quente a sete minutos do intervalo. Trocaram sorrisos. Saíram a cumprimentar-se.

Já depois de também a Espanha marcar ingloriamente após o apito - e muitas vezes foi complicado ouvir o apito com os decibéis que vinham da bancada - a Argentina passava para a frente do marcador. Numa relação forjada desde que, no Olímpia, mal sabiam apertar os patins, Carlos Nicolia serviu Pablo Álvarez para o golo. A explosão, o "ruído" que é a mais bela das melodias para qualquer adepto do desporto foi tanto que os árbitros não ouviram as chamadas da mesa para desconto de tempo...

O intervalo chegou com um pequeno "sururu", ecoando no pavilhão um envolvente "España tiene miedo". "La Roja" é campeã da Europa, com jogadores habituados aos grandes palcos. E, mesmo que desses ao Aldo Cantoni vá todo um universo de distância, os jogadores de Guillem Cabestany nunca se renderam. Resistiram depois de um azul a Roca, com o oliveirense Lucas Martinez (careca por praxe) a não conseguir bater Sergi Fernandez de livre directo, e ao underplay que se seguiu. E às sucessivas investidas de uma Argentina que não tem a defesa no seu ADN, mesmo em vantagem.

Aos nove minutos, numa grande penalidade, o barcelense Conti Acevedo (a assumir-se como dono da baliza albiceleste) parou o remate do portista Xavi Barroso, mas lançou-se antes do tempo. Na repetição, Pau Bargalló igualou. O Aldo Cantoni engoliu em seco, num instante de silêncio impactante. No entanto, a apreensão demorou nove segundos contados. No recomeço de jogo, Ordoñez rematava fortíssimo para nova vantagem da Argentina e reacendia a paixão nas bancadas.

No ritmo vertiginoso do jogo, os argentinos chegavam às nove faltas com quase 12 minutos para jogar, mas não abdicavam de atacar. A Espanha., em busca do empate, chegava à nona a cinco minutos e meio do fim, e a 10ª falta perfilava-se como decisiva. Mas decisivo foi Ordoñez.

O atacante levou a paixão da bancada (onde, com "Nolo" Romero, foram um espectáculo dentro do espectáculo no apoio aos Sub-19) para a pista e, já nos três minutos finais, levantou e rematou na área espanhola num momento mágico, surpreendendo Sergi Fernandez. Estava feito o 4-2 e a vitória já não escapava. Nem Nicolia nem Bargalló transformaram em golo a tal 10ª falta que tantas vezes é decisiva. Mas isso fica para outras partidas. Fica para os jogos. Este embate entre Argentina e Espanha no Aldo Cantoni foi outra coisa, muito mais do que um jogo...

A vitória da Argentina sobre a Espanha fechou um primeiro dia que começou, no masculino, com o triunfo de Angola sobre Moçambique, e teve o início da defesa do título por Portugal numa vitória clara sobre a França.

No feminino, a selecção portuguesa também venceu a sua congénere gaulesa, sendo de sublinhar as vitórias pouco expressivas de Espanha e Argentina, apontadas como as mais fortes (as únicas?) candidatas ao título, sobre Chile e Itália.